📘 Autoanticorpos específicos do diabetes tipo 1

Prof. Assoc. Dr. Sorin Ioacara Médico especialista em diabetes Atualizado: 18 de novembro de 2025

Respostas claras e detalhadas às questões essenciais sobre autoanticorpos específicos do diabetes tipo 1

🔍 O que são autoanticorpos e por que os tenho?

Autoanticorpos são proteínas produzidas pelo teu sistema imunitário humoral que atacam erroneamente os teus próprios tecidos. No diabetes tipo 1, eles visam especificamente proteínas nas células beta pancreáticas. Surpreendentemente, no entanto, eles não destroem as células beta.

A sua presença confirma que o teu diabetes é de natureza autoimune, não de outras causas. Os autoanticorpos em si não destroem as células beta. Os anticorpos específicos do diabetes tipo 1 são apenas um sinal de que outra coisa está lutando contra as células beta para destruí-las (o sistema imune celular). Eles são antes testemunhas do processo autoimune, como fumaça que indica a presença de fogo. A sua produção começa meses ou anos antes do aparecimento dos sintomas do diabetes.

📋 Que tipos de autoanticorpos são testados para DM1?

Existem quatro autoanticorpos principais testados: GAD (anti-descarboxilase do ácido glutâmico), o mais comum; IA-2 (anti-tirosina fosfatase); IAA (autoanticorpos anti-insulina), mais comuns em crianças pequenas; ZnT8 (anti-transportador de zinco 8). Adicionalmente, existe também o ICA (anticorpos anti-células das ilhotas), um teste mais antigo com fiabilidade muito baixa, raramente usado agora.

Cada autoanticorpo reflete o ataque a uma proteína diferente na célula beta. Quanto mais autoanticorpos positivos tiveres, mais certa é a diagnose de diabetes tipo 1 autoimune. Em crianças e jovens, geralmente testam-se todos, enquanto em adultos o GAD é o mais importante para diferenciar LADA do diabetes tipo 2.

🎲 Se tenho autoanticorpos, vou desenvolver certamente DM1?

A presença de um único autoanticorpo não significa que vais desenvolver diabetes tipo 1. O risco neste caso é de aproximadamente 20% nos próximos 20 anos. Com dois autoanticorpos positivos, o risco aumenta para 80%, e com três tende para 100% em 20 anos. Essencialmente, múltiplos autoanticorpos significam quase certeza.

No entanto, a velocidade de progressão varia enormemente. Algumas pessoas com autoimunidade desenvolvem diabetes em apenas alguns meses, enquanto outras em 20 anos. A idade e o título de anticorpos influenciam significativamente a velocidade de progressão. A monitorização periódica das glicemias permite a deteção precoce do estágio 3 do diabetes tipo 1 e o início do tratamento antes da instalação da cetoacidose.

📅 Com que frequência devo testar os meus autoanticorpos?

Uma vez diagnosticado com diabetes tipo 1 estágio 3 (com hiperglicemia clínica), já não precisas de repetir os testes de autoanticorpos para monitorização da doença. A sua presença ou ausência não altera o tratamento com insulina e não prevê a evolução. O teste inicial é suficiente para eventual confirmação diagnóstica e documentação.

A exceção é quando ainda não existe hiperglicemia na faixa do diabetes, especialmente para o rastreio de membros da família de um paciente com diabetes tipo 1. Parentes de primeiro grau podem ser testados anualmente ou a cada 3 anos, especialmente no âmbito de estudos de investigação. Crianças com alto risco genético podem começar os testes aos 2 anos de idade. O custo dos testes faz com que o rastreio de rotina muitas vezes não seja acessível.

⏱️ Os autoanticorpos desaparecem após o diagnóstico?

Os autoanticorpos podem persistir por anos ou até décadas após o diagnóstico, embora o seu título geralmente diminua com o tempo. O GAD tende a persistir mais tempo, sendo detetável em 70% dos adultos após 10 anos de doença. O IAA torna-se não interpretável após o início do tratamento com insulina. IA-2 e ZnT8 diminuem gradualmente em 5-10 anos.

O desaparecimento dos autoanticorpos não significa que uma possível cura ou remissão virá a seguir. O processo de destruição já foi completado e muito provavelmente já não há alvo suficiente para ataque. É como após um armistício, onde os tanques podem retirar-se a uma certa distância da zona de conflito, mas sem uma paz duradoura acompanhada de reconstrução, a destruição permanece. No estágio 3 da doença, a presença persistente de autoanticorpos não significa doença mais grave ou pior prognóstico.

🔢 O que significa se tenho múltiplos autoanticorpos positivos?

A presença de dois ou mais autoanticorpos confirma inequivocamente o diabetes tipo 1 autoimune e geralmente exclui outras formas de diabetes. Quanto mais autoanticorpos tiveres, mais intenso e rápido é o ataque imune. Em crianças, a presença de múltiplos autoanticorpos está associada a início mais precoce e perda mais rápida da função das células beta.

Para membros da família testados em rastreio, múltiplos autoanticorpos significam progressão quase certa para diabetes clínico (estágio 3 da doença). Estes indivíduos são geralmente incluídos como prioridade em estudos de investigação de prevenção. Para ti, após o diagnóstico do estágio 3 (com glicemias altas), o número de autoanticorpos já não influencia o tratamento, mas pode ser útil para o aconselhamento genético da família.

Posso ter diabetes tipo 1 sem autoanticorpos?

Sim, aproximadamente 10% das pessoas com apresentação clínica típica de diabetes tipo 1 não têm autoanticorpos detetáveis. Isto pode ser porque os autoanticorpos desapareceram, os testes não detetam todos os anticorpos possíveis, ou existe um mecanismo não autoimune de destruição das células beta.

A ausência de autoanticorpos não altera a necessidade de tratamento com insulina se tiveres o quadro clínico clássico: início relativamente súbito, tendência à cetoacidose, idade jovem, peso normal, peptídeo C muito baixo. Em alguns casos com alta carga familiar, pode ser útil o teste genético para formas monogénicas de diabetes (ex. MODY), ou melhor ainda, a consulta com um centro experiente.