📘 Preservação da função das células beta remanescentes na diabetes tipo 1

Prof. Assoc. Dr. Sorin Ioacara Médico especialista em diabetes Atualizado: 22 de novembro de 2025

Respostas claras e detalhadas às perguntas essenciais sobre a preservação da função das células beta remanescentes na diabetes tipo 1

🔋 Ainda tenho células beta funcionais após o diagnóstico?

Sim, no momento do diagnóstico, a maioria das pessoas ainda tem 20% de células beta funcionais. Os sintomas geralmente aparecem quando mais de 80% são destruídas, as outras sobrevivem, mas estão temporariamente não funcionais. O peptídeo C medido no sangue confirma a presença delas. Valores acima de 0,4 nmol/L indicam produção residual significativa de insulina.

Essas células são preciosas mesmo que não produzam insulina suficiente para oferecer uma independência total. Elas oferecem uma espécie de amortecedor que melhora as flutuações da glicemia, reduz o risco de hipoglicemia e cetoacidose. O controlo glicémico é assim mais fácil de obter. Estudos mostram que pessoas com função beta residual têm um risco menor de complicações crónicas (a longo prazo).

🛡️ Como protejo as células beta remanescentes?

O fator protetor mais importante é o controlo glicémico excelente. A glicemia persistentemente acima de 180 mg/dl (10 mmol/L) é tóxica para as células beta, acelerando a morte delas. Procure glicemias entre 70-140 mg/dl (3,9-7,8 mmol/L), o máximo possível. Evite a qualquer custo episódios de cetoacidose. A acidose e a desidratação são extremamente tóxicas para as células beta.

Doses adequadas de insulina externa oferecem "descanso" às células beta, reduzindo o stress dirigido sobre elas e o barulho que consecutivamente fazem enquanto trabalham. Não tente "treinar" o pâncreas através de subdosagem de insulina. Estudos mostram que o início precoce do tratamento intensivo com insulina maximiza as chances de preservação da função beta residual.

O bom controlo glicémico ajuda as células beta?

Sim, o controlo glicémico rigoroso é o fator de proteção mais poderoso para as células beta remanescentes. A "glicotoxicidade", o efeito tóxico da hiperglicemia sobre as células beta acelera a apoptose (morte celular programada) e reduz a capacidade de secreção de insulina. Cada episódio de hiperglicemia severa pode contribuir para a destruição permanente de algumas células beta preciosas.

O estudo DCCT demonstrou que a terapia intensiva, com metas glicémicas mais rigorosas preserva o peptídeo C mais tempo. Pessoas com HbA1c abaixo de 7% (53 mmol/mol) no primeiro ano após o diagnóstico mantêm uma função residual beta celular melhor a longo prazo.

💊 Existem medicamentos que preservam a função beta?

Sim, existem medicamentos estudados para preservação das células beta, embora a maioria ainda seja experimental. Teplizumab (Tzield), aprovado recentemente nos EUA, pode atrasar a perda da função beta em 2-3 anos quando administrado nos estágios precoces. O custo proibitivo (mais de 200.000 euros) e a disponibilidade limitada são barreiras maiores.

Outras terapias em estudo incluem: anticorpos monoclonais (anti-CD3, anti-CD20), imunossupressores selectivos (sirolimus, tacrolimus) e terapias de indução de tolerância (insulina oral, vacina com GAD). A participação em estudos clínicos oferece acesso a essas terapias experimentais.

⏱️ Quanto tempo podem sobreviver as células beta residuais?

As células beta residuais podem sobreviver anos ou até décadas após o diagnóstico, embora a sua produção se torne negligenciável clinicamente. Estudos com dosagem ultrassensível do peptídeo C mostram que metade das pessoas com diabetes tipo 1 há mais de 10 anos ainda tem produção mínima de insulina detectável. Esta microprodução, embora insuficiente para controlo glicémico, é benéfica.

Os fatores que influenciam a sobrevivência das células beta incluem idade no início mais avançada, melhor controlo glicémico, ausência de outras doenças autoimunes adicionais e, possivelmente, fatores genéticos protetores. As células beta podem persistir num estado "dormente", com produção mínima, mas ainda são viáveis. As pesquisas atuais exploram a reativação dessas células dormentes.

🔬 Como meço a função residual das células beta?

A função beta residual mede-se através da dosagem do peptídeo C, uma molécula libertada em quantidades iguais com a insulina pelas células beta. Independentemente da insulina injetada de fora, o peptídeo C reflete apenas a produção endógena. A dosagem faz-se geralmente de manhã, em jejum (valor basal) ou após estimulação com uma refeição mista padronizada (mais sensível).

A interpretação dos valores do peptídeo C no contexto de uma diabetes tipo 1 pressupõe abaixo de 0,02 ng/ml para ausência total; 0,02-0,2 ng/ml para uma função mínima e acima de 0,2 ng/ml uma função secretora boa (em contexto). O teste anual nos primeiros cinco anos pode eventualmente objetivar o declínio. O custo do teste é razoável.

Por que é importante preservar células beta?

A preservação de qualquer função beta residual, mesmo mínima, traz benefícios maiores. Pessoas com peptídeo C detectável têm 50% menos hipoglicemias severas, risco reduzido de cetoacidose, variabilidade glicémica menor e HbA1c melhor, tudo com menos esforço. A função residual oferece uma rede de segurança, que protege em situações difíceis.

A longo prazo, a presença do peptídeo C associa-se ao atraso no aparecimento de complicações crónicas. Por isso, qualquer estratégia que preserve a função beta celular, mesmo parcialmente, merece ser considerada.

🍽️ A dieta pode proteger as células beta remanescentes?

A dieta pode influenciar a sobrevivência das células beta através de vários mecanismos. A dieta low-carb moderada (100-150g hidratos de carbono/dia) reduz a necessidade de insulina e o stress secretor sobre as células beta. Evitar picos glicémicos pós-prandiais através de escolhas alimentares inteligentes (índice glicémico baixo, fibras, proteínas) minimiza a glicotoxicidade.

O jejum intermitente ou a restrição calórica intermitente são estudadas para o potencial de regeneração, mas as evidências são preliminares. Evite dietas extremas, que podem desestabilizar o controlo glicémico.